Thursday, November 09, 2006





















Inquietude jornalística

João Paulo Medeiros


Como todo pobre humano que sou, minha cabeça sempre foi atormentada por inquietações. No meu caso, era o desejo de saber. A aspiração de descobrir, de revelar a todos e a mim mesmo o que há de obscuro... de igual a Tomé, acreditar porque pude comprovar realmente que tais coisas existiam, de desvendar os truques herméticos de nossos tempos.

Muito provavelmente foi esse o principal motivo que me levou a optar por Jornalismo e não pela vida de professor ou tocador, por exemplo.

E aí você me pergunta: - Moço mas o professor não pode descobrir novas didáticas? E o músico, não pode ele encontrar novas melodias e composições?

De antemão, devo responder que sim, isso é lógico. Porém as descobertas que tanto persigo encontram-se numa perspectiva interdisciplinar. No mundo da política, dos negócios, dos esportes, da arte e, não raras vezes, da própria “fantasia”.

Sempre quis desvendar o que há por trás das mentiras entoadas nos palanques, dos papéis escondidos na pasta preta do funcionário público corrompido, na saliência entremeada das conversas de bares dos homens de confiança da elite, em forma de dinheiro vivo nas sonegações e estratagemas realizados por milhares de homens de negócio desse país, e mais numa infinidade de lugares onde o meu e o seu imposto público é diluído num piscar de olhos. Condenando à decadência eterna os muitos miseráveis espalhados de Norte a Sul desse desmoralizado recinto.

Anteontem, enquanto tentava produzir uma matéria sobre a construção civil, ocorreu comigo um desses episódios que deixam intrigado qualquer afoito que pretenda enveredar no mundo das investigações jornalísticas.

Num instante só em que esperava pela fonte da matéria, um professor da UFCG que iria me abarrotar de números e teorias, um sujeito meio desengonçado aproximou-se e perguntou-me:

- O senhor vai participar da licitação?

- Não, não.
Respondi rapidamente até um pouco abismado com a indagação.

- Ah sim, eu vou. Sou empresário e pensei que você fosse meu concorrente.
Completou com o intuito visível de estender a conversa.

Já pensando a que ponto poderia chegar do tema, fiz com que evoluíssemos em nosso diálogo. Ele tinha chegado há pouco da Capital, viera somente para disputar o direito de reequipar a Universidade com novos aparelhos de ar-condicionados. Nem lembrava mais de quantos processos iguais àquele já participara.

Prosseguiu contando-me das inúmeras “maneiras” de sair vitorioso. Falou-me da lama, do fosso da corrupção e da mentira como só por televisão costumamos ver.

- Há casos em que a gente compra os adversários, ou então tem uma conversa com os anfitriões.

Explicou-me com riqueza de detalhes.

Foram quase horas naquele que, para mim, era conversa que levava ao céu e ao inferno ao mesmo tempo. Ao primeiro por minha inclinação de quase jornalista, predisposição nata às investigações tão desprezadas pela efemeridade moderna da notícia. Ao inferno porque não teria onde publicar aquilo que ouvia. Em ter ainda uma insignificante maturidade profissional, na maioria das vezes necessária à condução desse tipo de matéria.

Por permanecer, naquele momento e durante todo o resto do dia, enclausurado em minhas até agora inutilizáveis inquietações descendentes do Jornalismo.

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