Orkut: o revelador
João Paulo Medeiros
O orkut todo mundo conhece. Mesmo quem nunca fez seu “perfil” ou passou horas estagnado em frente ao computador cureando sua “página e scrapps”, já viu ou ouviu falar no site de relacionamento mais badalado da internet. E não é para menos: estima-se que, somente no Brasil, 10 milhões de pessoas sejam usuárias do serviço.
Ao associar-se cada indivíduo torna-se criador e editor de sua própria página virtual. Ordena e classifica as fotografias a serem expostas; arquiteta frases, comentários e pensamentos de efeito, em descrições nem sempre plausíveis; distribui, recebe e encomenda falsos e verdadeiros convites de amizade. O site é uma psicose navegante .
Mas, ao contrário do que muitos pensam, a formatação e o conteúdo das páginas simbolizam bem mais do que um simples espaço feito para estreitar as relações humanas. Eles identificam o próprio dono. Publicitam como ele enxerga o mundo e sua participação no convívio com as outras pessoas. Revelam o caráter. O comportamento e o ideário dos usuários. Isso, certamente, pouca gente percebe.
Exemplo do fato é o interrogatório a respeito da visão política dos indivíduos. Respostas do tipo, “apolítico”, ajudam-nos a compreender porque a imoralidade e o fisiologismo político prosseguem gerindo os espaços públicos de representação da República brasileira. O termo “Política” é ao mesmo tempo tão próximo e alheio à grande parte dos eleitores. E se estes não possuem a capacidade de alinhar-se politicamente a uma ideologia, como poderão exigir que aqueles que os representam façam isso? Na prática, o troca-troca de siglas partidárias, o desprezo por programas de governo e pelos princípios ideológicos do regime democrático são algumas das características do Estado Brasileiro.
Para essas pessoas há apenas duas explicações: ou elas não existem, ou não têm a mínima noção do venha a ser “Política”. A possibilidade da inexistência está condicionada à máxima sentenciada por Aristóteles: o homem é um animal político no instante em que necessita se relacionar com os demais.
A assertiva do desconhecimento refere-se à atribuição leiga da “Política” associada à natureza eleitoral. Nesse caso, verifica-se que aqueles que afirmam ser desinteressados por política, votam e freqüentemente fazem campanha em períodos de eleição. E ainda que se abstivessem do voto, também dessa forma participariam do processo como não-votantes.
Na verdade a política – mesmo entendida unicamente como eleitoral – está longe de ser a “arte de transformar a vida das pessoas”, como exprimem demagogicamente muitos atores políticos contemporâneos. Mas certamente pode e deve ser entendida como uma disputa de poder; indispensável e indissociável ao desenvolvimento da vida em sociedade.
Aqueles que continuam se intitulando “apolíticos”, ainda que o façam em ambientes descontraídos como o orkut, reforçam e prolongam a indecência e o amadorismo governamentais reinantes em nosso país. O orkut precisa ser aproveitado como instrumento propagador de boas idéias, e a política entendida e tratada com seriedade.
4 Comments:
sim, mas, se "o orkut precisa ser aproveitado como instrumento propagador de idéias", pq vc saiu dele?
ahh, não vale alterar o texto. :|
à parte dessas suas "questões pessoais", concordo com o que está dito no texto, apesar de eu mesmo nem sequer indicar minha visão política no orkut -- pq se eu colocar direita/extrema-direita ou qualquer coisa parecida, vai todo mundo associar ao pfl e cia ltda., o que não tem nada a ver.
o q foi q JP mudou aí??? pode nao véi, escrever e ficar mudando...
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