Chifre em cabeça de cavalo
João Paulo Medeiros
A política brasileira é marcada, infelizmente, por episódios e declarações no mínimo controvertidas – para não dizer inimagináveis. Dia desses, logo após o “super-extraordinário” aumento de salários conferido aos deputados (91%), um parlamentar teve a ousadia de defender a medida dizendo que “é preciso dar aos homens dignos desse país as condições de trabalharem decentemente”. Noutro caso, passadas poucas horas das eleições de Outubro, um recém-eleito não conservou a vergonha e assegurou que a primeira coisa a fazer no Congresso “é observar e mudar todos os móveis da Casa”.
Ontem, durante um fervoroso discurso no Plenário do Senado Federal, o senador Antônio Carlos Magalhães utilizou-se de todo o descaramento para tecer críticas ao comprometimento da Mídia brasileira com os políticos do país.
Evidentemente que a questão aqui não é a necessidade de reavaliação do tema, visto que as reflexões precisam ser cultivadas com freqüência por qualquer um que tenha o mínimo de conhecimento do assunto. Pois os problemas existem, e são muitos! Disso ninguém tem dúvida.
As declarações do senador foram motivadas pela publicação de uma matéria, na IstoÉ desta semana, intitulada “O fim do Carlismo”. Mas ao referir-se ao tema, ACM foi bem mais além.
No pronunciamento o parlamentar enfatizou o “estreito” relacionamento entre a Revista e o grupo político comandado pelo PT, assim como a interferência política existente dentro de outras empresas de comunicação. “O Brasil agora é este”, disse. “Essa imprensa – não todos; a maioria é gente séria – tem lucrado muito com o governo”, completou.
Mas as palavras saídas da boca do senador ACM ganham outras configurações e sentidos. Certamente não têm nenhum compromisso com o processo de democratização dos meios de comunicação brasileiros, muito menos com a livre manifestação do pensamento em favor dos oprimidos. Impossível que isso acontecesse, se o mesmo ACM é indiscutivelmente um dos grandes responsáveis pela atual moléstia.
Um breve resgate da história do processo de submissão dos meios de comunicação à classe política nacional, e a homilia “Carlistiana” revela-se incongruente e arraigada de demagogias.
Se olhasse para as fotografias tiradas nos anos de
Para se ter uma noção do que significou a passagem de ACM pelo Ministério das Comunicações, em seis anos do Governo Figueiredo foram concedidas 634 novas emissoras de rádio e TV. Nos anos em que esteve à frente da pasta ministerial, ACM outorgou 1.028 concessões. Destas a grande maioria foi destinada a aliados políticos de Sarney e a homens de confiança de senador na Bahia, segundo revela um estudo do jornalista e pesquisador Paulino Motter.
Agora, depois de ter contribuído diretamente para o aliciamento dos veículos de comunicação por entidades político-partidárias, ACM parece pretender esquecer ou fazer esquecer o passado; figurando como defensor da moralidade e da independência jornalística nacional.
É bom que os arquivos do Ministério das Comunicações continuem falando àqueles que, às vezes, não querem ouvir... Discursos e melodramas dessa natureza, só podem conduzir ao teatro cavalos com chifres e/ou elefantes farejadores.
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