Monday, August 06, 2007


Missa em Latim

João Paulo Medeiros

Hoje, às 09 horas, a igreja da misericórdia em João Pessoa reabrirá as portas. Depois de vários anos fechada para recuperação, uma das mais simbólicas arquiteturas católicas voltará a receber o público católico para missas e orações.

No entanto, logo na reabertura se perceberá que não foram somente as telhas e o rebolco que sofreram mudanças no local. Já na primeira missa, que será celebrada por Dom Aldo Pagotto, (arcebispo da Paraíba), a celebração será proferida em latim.

A introdução do novo idioma obedece ao decreto publicado no dia 07 de julho pelo Vaticano, que autorizou os padres a conduzirem as celebrações na língua européia.

Em carta aos bispos, Bento XVI rejeitou as críticas internas à Igreja de que sua atitude, há muito esperada, possa dividir os católicos e retroceder das reformas introduzidas nos anos 1960, às quais muitos tradicionalistas se opõem.

Na prática, qualquer comunidade católica poderá solicitar que seu pároco utilize o latim durante a realização das missas. Caso o religioso se recuse a acatar o pedido dos fiéis eles podem apelar ao bispo, que é “veementemente recomendado a satisfazer tais pedidos", disse o papa. Se ainda não tiverem sucesso, podem recorrer diretamente ao Vaticano.

Mas o grande problema nisso tudo provavelmente não estará nesse ponto, até porque não se imagina que alguém de sã consciência irá fazer tal propositura. O perigo está, sim, na possibilidade das celebrações começarem a ser efetuadas com freqüência no novo idioma.

Num país em que 16 milhões de pessoas não sabem ler ou escrever a língua oficial é fácil compreender que ninguém entenderá palavra alguma proferida pelos religiosos; e desta forma, o objetivo primordial das celebrações (a transmissão das mensagens de Cristo) não será alcançado.

Corre-se o risco, por exemplo, do padre estar lendo o ofertório e os leigos celebrando a comunhão, ou de o vigário falar de injustiças e os presentes entenderem salvação.

Na missa que marcará a reabertura da Igreja pessoense, uma infinidade de ensinamentos, certezas e reflexões devem ser repassadas aos presentes; menos a triste constatação de que passaram horas em frente ao altar e não entenderam nada.

1 Comments:

At 9:34 AM, Blogger Lenildo Ferreira said...

Mesmo em latim, o povo continuará cumprindo seu ritualismo religioso, com um desconhecimento de causa praticamente no mesmo nível. Com a diferença de que, assim, sequer entenderão as palavras que o ministrante fala - e não apenas a interpretação da mensagem. Achei estranho esse caprinho pessoal do alemão inquestionável, mas, historicamente foi sempre assim: quando é um homem o ponto de referência e autoridade máxima visível - e não as escrituras - nada pode ser surpreendente, seja qual for o credo. No que se refere ao papa, serve apenas de mostra de uma filosofia que sempre preferiu valer-se do desconhecimento, como ferramenta de manipulação. O povo não precisa entender. O povo não deve entender. O povo tem que apenas "obedecer" as tradições e os ditames do "sacerdote". Cegamente. Para que ambos caiam no buraco.

 

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