Friday, January 05, 2007

















Recriar, somente, não é a saída...

João Paulo Medeiros

Quase 48 anos após o economista Celso Furtado ter idealizado as superintendências SUDAM (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) e SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), ontem, o Governo Federal anunciou a recriação das autarquias.

No papel a idéia é, e sempre foi excelente: com o trabalho das duas superintendências amenizar o atraso histórico das regiões mais pobres do país – Norte e Nordeste. No mundo corrompido da “prática” brasileira, porém, a história demonstra que as disparidades entre aquilo que é proclamado e o que, efetivamente é cumprido, são desanimadoras.

Em dezembro de 1959 os órgãos foram postos em funcionamento com a finalidade de direcionarem seus trabalhos em quatro linhas de frente, na época elegidas como prioritárias: 1) produção de alimentos na zona úmida do Nordeste; 2) desenvolvimento no semi-árido de uma agricultura resistente aos efeitos da seca; 3) colonização e integração do estado do Maranhão; 4) desenvolvimento da irrigação no São Francisco.

Mas o que se viu no decorrer dos anos foi uma enxurrada de desmandos e desvios incontáveis, que se não aprofundaram ainda mais os problemas daquelas regiões, jamais concederam a elas o tão esperado desenvolvimento de seus povos. De acordo com dados da CPI do Finor (Fundo de Investimentos do Nordeste), cerca de 10% de todos os recursos do órgão, subordinado à Sudene, foram desviados em 1974. O rombo na Sudam é estimado em R$ 1,8 bilhão. O da Sudene, em R$ 2,2 bilhões. A conta é modesta. Dados do próprio governo, trabalhados pela CPI, estimam que US$ 110 bilhões de todos os investimentos públicos feitos na Amazônia teriam desaparecido.

Os números do desenvolvimento gerado pelas poucas ações de fato empreendidas são até bem expressivos. Na década de 60 por exemplo, o PIB (Produto Interno Bruto) do Nordeste crescia 3,5%, contra 6,1% do Brasil. Com a Sudene em pleno funcionamento, o PIB da região teve um crescimento de 8,7% na década seguinte, e continuou a superar os índices nacionais nas décadas posteriores.

O grande problema é que a evolução das potencialidades econômicas das duas regiões alavancou o desenvolvimento, mas não continha nenhuma preocupação com a distribuição das riquezas geradas pelo próprio crescimento. Resultado: a desigualdade social e a miséria prosseguiram a atormentar a vida dos moradores do Norte e do Nordeste.

Certamente a quantidade de horas dedicadas por Furtado na elaboração de suas idéias foram insignificantes perto dos duradouros meses de penúria, ao perceber que todo seu trabalho havia sido condenado à inaplicabilidade. Hoje, pouco mais de dois anos de seu falecimento, sabe-se que o competente economista recebeu em vida escassos resultados provindos daquela obra; talvez tenha sido agraciado com a gratidão divina, ao visitar a casa celeste.

Entre aqueles que mais contribuíram para a extinção dos órgãos, efetuada em 2001 durante o governo FHC, estão o ex-presidente José Sarney, sua filha Roseana, o deputado federal Jader Barbalho, juntamente com mais uma dezena de políticos nordestinos e da Região Norte do Brasil. A maioria, já era de se esperar, ainda permanece em plena atividade e a defender calorosamente a revitalização dos órgãos. Provavelmente porque mais uma vez eles ou “alguns dos seus” encabeçarão a lista dos diretores das autarquias, já que hoje grande parte é aliada do Governo.

A recriação, somente, perceptivelmente não é a saída. É preciso que muitos planos e medidas sejam adotadas para impedir que esses indivíduos prossigam a desviar os bons propósitos do ideário outrora edificado por Furtado. Oferecer o comando das Superintendências a pessoas mais técnicas e menos sujeitas a interferências políticas deve, e pode ser uma das soluções.

Só dessa maneira, quem sabe lá de cima, o velho economista possa seguir mais satisfeito em seu descanso eterno.

1 Comments:

At 4:36 AM, Blogger Lenildo Ferreira said...

Essas coisas todas apenas vêm para corroborar aquilo que, sabiamente apregoava nossa professora, a Dra Márcia Fonseca: o grande mal desse País não é econômico, mas sim essa praga consumidora chamada corrupção. Abs

 

Post a Comment

<< Home