Friday, May 04, 2007


O Descrédito e a desesperança

João paulo Medeiros


Mais de 25 mil paraibanos não regularizaram o título eleitoral esse ano e deverão ter os documentos cancelados pela Justiça eleitoral. O prazo para regularização terminou no último dia 26 de abril, mas os transtornos causados pelas filas nos locais onde esses procedimentos foram feitos não mereceram sequer uma nota nos jornais. Evidentemente que o fenômeno não tem ligação alguma com a ocorrência de chuvas ou com a agressividade do sol, muito menos está condicionado à falta de transporte ou de tempo dos eleitores se dirigirem aos cartórios eleitorais do Estado. Claro que não.

Em meio a uma série de acontecimentos que lambuzaram o nome do Estado ano passado, como o esquema dos Sanguessugas que envolveu seis parlamentares paraibanos e a operação Confraria, que apontou indícios de irregularidades monstruosas na Capital, a ausência dos paraibanos apresenta-se como um reflexo significativo da atual conjuntura política do Estado.

O que existe, e este fato não é novo, é um total desprezo atribuído à política pela população da Paraíba. O paraibano desacredita na classe política de seu Estado, tem medo de ser forçado a dar um voto a alguém que não merece recebê-lo.

E os números contribuem para a prevalência desse estado de espírito. Na Paraíba, para se ter uma idéia, estima-se que os desvios de recursos públicos ultrapassem meio bilhão de reais por ano, e, segundo o Fórum Paraibano de Combate à Corrupção, cerca de 85% das denúncias que vimos todos os dias nos noticiários são procedentes.

Malas de dinheiro são jogadas pelas janelas em períodos eleitorais, cestas básicas são distribuídas em larga escala no dia do pleito, cimento areia e gasolina são comprados a preço de ouro por órgãos públicos em todo o Estado. Esse conjunto de más ações praticadas por caciques da política local tem distanciado cada vez mais o povo paraibano do processo de participação na vida pública do Estado, participação esta que é princípio indispensável da democracia.

Ruim para aqueles que ficaram em débito com o Tribunal Eleitoral, pois permanecerão impedidos de se matricularem em universidades, tirar passaporte, prestar concurso público, recadastrar o CPF entre outras coisas; péssimo para todos nós, que prosseguiremos sendo forçados a participar de um jogo em que muitos dos jogadores não estão nem aí para o resultado final da partida.

A política aqui no estado tem dessas peripécias: poucos manifestam interesse, a maioria acompanha por obrigação, uma micro-minoria permanece satisfeita e acumulando benefícios vindos do descrédito e da desesperança de muitos.

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