Para além de um Viaduto
João Paulo Medeiros
A Banca de Jornalistas, boletim diário produzido pela assessoria de imprensa do Governo do Estado, trouxe hoje com euforia o anúncio da inauguração da mais esperada obra do Governador Cássio em seus quase seis anos de mandato: o viaduto de Campina Grande.
“Chegou o dia para encher de orgulho o campinense”, evoca o título maior da publicação, fazendo referência à cerimônia de logo mais à noite.
Mais abaixo, no ‘corpo’ da Banca, prossegue o texto: “Considerada uma ‘belíssima peça de arquitetura’, a obra valoriza a área conhecida como ‘giradouro do cepuc’, interliga as avenidas Manoel Tavares, Jiló Guedes e Floriano Peixoto e corresponde a um investimento de mais de R$ 28,5 milhões na execução dos projetos de construção e de iluminação da área.”
Obviamente que não há a intenção aqui de avaliar a competência ou a viabilidade do material jornalístico veiculado pela assessoria, até porque se deve considerar que o trabalho feito está dentro das atribuições a que se pretende uma assessoria.
Porém, o fato inauguratório e a realidade campinense carecem de algumas observações, que vão de encontro com a estupefação veiculada pelo Governo em torno da obra. A primeira delas é a de que para uma cidade onde a maioria da população vive mal e enfrenta péssimas adversidades sócio-financeiras, certamente é difícil imaginar que a simples edificação de uma “belíssima obra de arquitetura” irá satisfazer as barrigas vazias do município. Depois, seguindo o mesmo raciocínio, é fácil concluir que para uma terra em que muitos ainda andam de carroças a obra terá pouca serventia.
Campina tem hoje um déficit habitacional de cerca de 14 mil moradias, mais de 50 mil indivíduos clamando por um emprego e milhares perambulando pelas ruas em situação deplorável. Aliado a isso, as populações periféricas convivem com o medo da violência e com a falta de vagas em hospitais e postos de saúde. Jovens morrem todos os dias vítimas de latrocínios, facadas e outros delitos nos quatro cantos do município; e têm seus registros policiais complementados com o conforto assegurado por “a polícia fez diligências pelo local mas nada encontrou”.
Apesar de o Governo querer propagar essa idéia, é necessário convir que o viaduto está longe de ser um marco na história da cidade. Campina precisa de obras estruturantes sim: de moradias, hospitais, e outra infinidade de melhorias na urbanização da cidade... No entanto, enquanto isso milhares de cidadãos mendigam por ações imediatas, que valorizem o desenvolvimento e o bem estar social de suas famílias.
Medidas que promovam emprego e renda para a camada mais pobre da sociedade, incentivos e programas que acelerem a implantação e o progresso dos meios produtivos, ações que garantam à classe média campinense o direito de mover a economia da cidade; projetos, enfim, que alcancem uma dimensão maior do que uma mera construção arquitetônica e que poderiam muito bem ser concretizados com os R$ 28,5 milhões de reais empregados num viaduto.
Somente depois disso poderíamos traçar definitivamente um divisor de águas na história da maior cidade do interior do Nordeste. Quando todos tivessem, de verdade, motivos para permanecer cheios de orgulho.
1 Comments:
Particularmente, entendo a constru�o do viaduto como uma obra importante. Lembro muito bem que o n� tradicional no tr�nsito daquela regi�o sempre foi objeto de reclama�o de todos os motoristas. O fluxo de autom�veis ali � t�o grande que nem mesmo o viaduto vai resolver, apenas minimizar. O que aborrece mesmo � que n�o precisava de toda essa zuada em torno de um viaduto (coisa mais matuta!!! - no sentido pejorativo do termo). Outra coisa: esse tal viaduto n�o precisava ser t�o fara�nico, t�o cheio riquefifes. Acho que isso j� teria economizado alguns milh�ezinhos. S�o coisas de nossa pol�tica nojenta!!!
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